Felipe Roan mal podia acreditar no que via a sua frente. Tinha acabado de acordar e seus olhos ainda estavam entreabertos quando a surpresa veio. Arregalaram-se. Sangue, muito sangue no corredor. Mas o sangue não havia escorrido, era como se alguém tivesse sido arrastado, e como se mais alguém os seguisse, deixando as pegadas grosseiras no sangue. Muito sangue.
- Pai?-falou baixo, quase que inconscientemente. Era instintivo. Desde que sua mãe morrera afogada, quando o jovem Roan tinha apenas seis anos, no lago em frente à casa de sua avó, era quase que automático o balbuciar dessa palavra quando se sentia assustado - Pai?
Sentiu algo no coração. A pior sensação que já sentira. Uma pancada, um golpe, como se uma bola tivesse sido chutada contra seu peito. Segurou com força as laterais do pijama e engoliu a saliva em excesso.
Ele morava com o pai. Ele e o pai. Não havia mais ninguém além dele e do seu pai. Então se havia sangue no chão, o sangue só podia ser do seu...
- Paaaaaai? - deixou todo o ar sair dos pulmões. Paralisou e esqueceu de respirar. Ficou tonto. Lágrimas pesadas caíram. Tragou o ar fortemente e gritou – Paaaaaai?
Andava pelo corredor como se ele fosse infinito, seus pés pisavam com asco o sangue no chão e o seu corpo buscava abrigo na parede branca e fria. Escorregou e caiu com a barriga virada para baixo. Entrou em pânico, levantou-se desajeitado e saiu correndo a chamar pelo pai e nada ouvir.
O sangue estava em todo o corredor, desde a porta do seu quarto até a sala e da sala para a saída da casa. Ele abriu a porta com toda sua força e sentiu a luz do sol explodir em seu rosto. Olhou para baixo. Não havia mais sangue. Olhou pra frente e percebeu que as pessoas estavam paradas olhando para ele, completamente sujo de sangue. Virou-se e seus olhos percorreram o caminho vermelho atrás dele. O vermelho estava mais escuro agora. As paredes também, os quadros, o estofado, a mobília, tudo. Tudo ficou preto. Os sons vindos da rua ecoaram distantes e não sentiu quando o seu corpo caiu pelos quatro pequenos degraus que separavam a porta da sua casa da calçada.
Eram sete da manhã e já devia estar acordado desde as seis para ir ao colégio na hora certa. Mas o seu pai não estava ali para acordá-lo como de costume.